Muito além das montanhas: o degelo nos Himalaias e a vida nas aldeias
Quando pensamos nos Himalaias, imaginamos picos majestosos, trilhos exigentes e paisagens de cortar a respiração. Mas para quem vive ali, as montanhas não são apenas cenário — são casa, sustento, e hoje, fonte de uma crescente incerteza. O degelo nos Himalaias é uma realidade visível, com impactos profundos tanto no ambiente como na vida das comunidades locais.
O Nepal, em particular, está na linha da frente desta mudança. Segundo o ICIMOD (International Centre for Integrated Mountain Development), os glaciares do Hindu Kush e Himalaias estão a derreter a um ritmo alarmante — e mesmo que se limitem as emissões globais, um terço do gelo pode desaparecer até ao final do século.
O que está a acontecer aos glaciares do Nepal?
Estudos científicos comprovam que o aquecimento nas regiões montanhosas do Nepal está a ocorrer mais rapidamente do que a média global. Em zonas como o Parque Nacional de Sagarmatha, onde se localiza o Everest, o recuo de glaciares como o Khumbu é visível a olho nu para quem percorre os trilhos.
De acordo com relatórios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), os glaciares no Nepal recuaram mais de 25% nas últimas décadas. Isto provoca a formação de lagos glaciais instáveis, que representam riscos sérios para aldeias localizadas a jusante. Um colapso súbito pode provocar inundações devastadoras — os chamados GLOFs ou Glacial Lake Outburst Floods.
Efeitos nas comunidades locais
Para os habitantes das aldeias de montanha, estas mudanças não são apenas teoria — são parte da rotina. Agricultores que antes sabiam quando semear e colher, hoje enfrentam alterações imprevisíveis nos ciclos de chuva. Algumas aldeias, como Phortse, Dingboche ou Langtang, relatam redução nos caudais de água e menor produtividade agrícola.
Além disso, o degelo afeta o acesso a água potável. Os sistemas de abastecimento que dependem do derretimento regular de neve e gelo estão cada vez mais frágeis. E em zonas onde o turismo é a fonte de rendimento — como no circuito dos Annapurnas ou no vale de Langtang — os guias e portadores enfrentam trilhos que foram sendo modificados por deslizamentos de terra e erosão.
Trekking e consciência ambiental
Quem faz trekking no Nepal hoje testemunha um cenário em constante mutação. Em regiões como Langtang, ainda se vêem os efeitos do terramoto de 2015, mas também as marcas do recuo glaciar e da adaptação das aldeias a um novo clima.
Cada vez mais operadores locais e organizações comunitárias estão a integrar educação ambiental nas rotas, com painéis informativos, centros de interpretação e programas de reflorestação. O turismo consciente pode desempenhar um papel positivo: além de gerar rendimento, pode apoiar projetos de resiliência climática.
Na viagem Trekking do Evereste a Papa-Léguas, liderada pelo alpinista João Garcia, a consciência ambiental é parte integrante da experiência. Além de ser um desafio físico e cultural, o trekking promove uma atitude responsável face à montanha.
Um dos cuidados adotados é o uso de um filtro de carvão portátil, que permite bombear, filtrar e beber água de forma segura, sem recorrer a garrafas de plástico. Esta escolha evita a produção de resíduos não recicláveis — um problema comum no vale do Khumbu, onde não existe sistema de recolha eficaz e muitos plásticos acabam nos rios.
Ao longo do trilho, João Garcia partilha ainda com o grupo a importância de minimizar o impacto ambiental — um princípio que aplica nas suas próprias expedições. A recolha de lixo nos trilhos, sempre que possível, é uma prática incentivada, ajudando a manter limpos os caminhos mais percorridos do Nepal.
Este tipo de abordagem reforça uma ideia fundamental: quem caminha nestas montanhas deve fazê-lo com respeito e cuidado, contribuindo para a sua preservação e valorizando o papel das comunidades locais que ali vivem e cuidam do território.
Como viajar de forma mais responsável no Nepal
Se estás a planear uma viagem ao Nepal, considera estas práticas para minimizar o teu impacto:
- Escolhe operadores locais comprometidos com práticas sustentáveis e respeito pelas comunidades;
- Evita plásticos descartáveis — em muitas zonas, as garrafas de plástico já são proibidas;
- Usa água filtrada em vez de comprar água engarrafada;
- Informa-te sobre os desafios locais: não é preciso ser especialista, mas saber onde estamos e o que enfrentam as pessoas torna qualquer caminhada mais consciente;
Um futuro incerto — mas não inevitável
O degelo nos Himalaias é um alerta claro: mesmo os lugares mais remotos e majestosos estão a ser afetados pelas decisões que tomamos globalmente. Para quem vive nas montanhas, o futuro depende não só da adaptação local, mas da capacidade coletiva de mudar.
E para quem visita, há uma oportunidade única: testemunhar, com respeito e atenção, uma região em transformação — e viajar com a responsabilidade de a proteger.


➡️ Caminha por aldeias sherpa e paisagens glaciares. Junta-te ao alpinista João Garcia na viagem Trekking do Evereste.