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Alguma coisa a declarar, António Cotão?

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Nome: António Cotão

Alguns dos destinos que lidera: Grécia e Roménia

O António nasceu e cresceu nas serras do Alto Alentejo, onde desenvolveu uma paixão pela natureza e pela vida selvagem. Licenciado em Biologia, dedica-se à proteção do ambiente, através de projetos de voluntariado e da sua atividade profissional. Grande parte do seu tempo é passado ao ar livre, mochila às costas, entre birdwatching e trekking, e a sua missão é conectar as pessoas com a natureza.

  • Alguma vez uma viagem te mudou a forma de ver o mundo?

Acho que cada viagem nos oferece uma perspetiva nova sobre a vida e o mundo em geral. Mas, a minha primeira viagem, um interrail de 12 dias pela Europa no final do secundário com um grupo de amigos foi aquela que transformou profundamente a minha forma de estar no mundo. Vindo de uma pequena vila do interior de Portugal, esta viagem abriu-me a mente para o mundo “lá fora” e plantou a semente das viagens. Foi nessa viagem também que me apercebi da importância das pessoas: as que vão connosco, as que deixamos para trás, e principalmente, as que conhecemos no caminho.  

  • Qual foi a refeição mais memorável (boa ou má!) que tiveste em viagem?

Uma sopa de lentilhas perto da 1 hora da manhã após mais de 10 horas de expedição de montanha de inverno com raquetes de neve no norte da Roménia. Depois de muito frio, demasiado peso às costas e muitos erros de navegação, esta sopa cozinhada por 2 membros do grupo ainda sem bivouac montado e simplesmente com o caldo e duas ou três especiarias ficará para sempre na minha memória.

  • Algum encontro com pessoas locais que nunca vais esquecer?  

Sim, com um nómada berber no deserto de Erg Chebbi no sudoeste de Marrocos. Em 2017, numa viagem de carro com um amigo por Marrocos para observação de aves, visitamos a zona de deserto para conseguir diversas espécies específicas que vivem naquele local. Era fundamental visitar o deserto com um condutor e guia local, mas o que não contávamos era ter um nómada a auxiliar-nos na procura de uma das espécies mais difíceis — o Noitibó-egípcio — uma ave noturna que se coloca no chão durante é praticamente impossível encontrar. O nómada encontrou a ave e como sabia que andávamos à sua procura, vigiou-a para nós, esperou no local e contactou o nosso guia.  Foi surpreendente e inesquecível ver a cara de felicidade dele ao ver-nos chegar. Depois de vermos e fotografarmos a ave, ele convida-nos para o seu acampamento, que estava a uns minutos daquele local, para bebermos um chá marroquino. Ficámos a interagir entre gestos, um pouco de francês, um pouco de espanhol e de inglês durante algumas horas na sua sala onde ele nos contou um pouca da história da sua família.

  • O que nunca falta na tua mochila, mesmo em viagens curtas?

Bem, o que não vai na minha mochila? Para além das coisas óbvias como água, snacks, primeiros socorros e afins, diria que um dos artigos que mais privilegio ter na mochila é um punhado de sacos de lixo, muitas vezes rolos para os dejetos de cães. Algo que faço há muitos anos é procurar recolher lixo ao longo das caminhadas, dentro das minhas possibilidades e realidade da minha caminhada. O conceito não deixar rasto (Leave No Trace) é muito importante para mim no respeito para com o meio ambiente e biodiversidade e que procuro sempre incentivar as pessoas fazer e que vai muito mais para além de não deixar o nosso lixo ou apanhar o de quem veio antes.

  • Qual foi o maior susto ou peripécia que já te aconteceu numa viagem?

Numa travessia em grupo em torno da parte norte da ilha de Skye em 2018, num típico dia nas Highlands, isto é, chuva, vento e nevoeiro, um dos membros do grupo lesiona-se nas duas pernas após uma queda e a equipa de 2 pessoas responsáveis da expedição decide, para surpresa de todos, levar juntos esse membro até a um ponto de resgate, a cerca de 1 hora. Quase mais em pânico que o grupo, decidem deixar o grupo a sós. Com alguns membros mais experientes do grupo assumimos a liderança e colocámos o grupo a andar, porque parados à chuva não era definitivamente opção. Para melhorar a situação, teríamos que carregar as mochilas dos dois responsáveis connosco. Algo que rapidamente decidimos não fazer. Cerca de uns 30 minutos depois, surge-nos uma passagem estreita, com pouco mais de meio metro de largura, entre uma vedação impenetrável e uma ravina, claro, com o vento a empurrar-nos contra esta. Cansadas, desesperadas e em enorme pânico, a maioria das pessoas começa a sobressaltar-se, umas gritando, outros chorando, outras tremendo incapazes de se mexer. Face às condições, não conseguíamos analisar melhor alternativa e portanto lá seguimos a custo. A maioria em caminhada lateral, alguns de rabo de rastos, outros de joelhos, mas todos agarrados pela vida àquela — felizmente excelente — vedação, lá completamos a travessia, numa aventura que poderia facilmente ter tido um desfecho trágico.

  • Um cheiro ou som que te transporta imediatamente para um destino visitado?

O cheiro de carne de kebab (ou gyros) e o som de um bouzouri (instrumento musical de cordas e em madeira da família do alaúde) juntos transportam-me imediatamente para um panegyri num dia de verão na Grécia. O que é engraçado pois não como carne nem gosto de dançar. Mas os sentimentos associados ao cheiro e som levam-me para viagens inesquecíveis onde conheci pessoas incríveis e um país extraordinário. Panegyris são basicamente “ajuntamentos” ou festas tradicionais de verão onde não falta a boa comida e muita dança tradicional. Seriam o equivalente às festas de verão em Portugal, com as suas respetivas diferenças.

  • Qual foi a paisagem que mais te deixou sem palavras?

As paisagens das Highlands na Escócia, particularmente na ilha de Skye. Mesmo depois de 7 anos, são imagens bastante vívidas na minha memória e que ainda hoje tenho dificuldade em descrever. Como em todas as viagens, as circunstâncias dos momentos têm um papel fundamental naquilo que é a memória e as emoções que se vivem e que ficam de cada viagem. Por isso, talvez pelo facto de nessa altura estar a fazer um trek lento de travessia com pernoita ao longo de Skye e de, em muitos momentos, ter uma paisagem completamente natural sem qualquer pessoa ou infraestrutura humana e num silêncio pleno ao meu redor tenha tido um voto crucial nesta escolha.

  • Algum animal selvagem ou situação na natureza que te tenha marcado especialmente?

Em 2014 numa viagem de observação de aves e animais selvagens com 4 amigos aos Países Baixos experiencei uma situação que me surpreendeu bastante. O objetivo era encontrar o maior número de espécies em 3 dias, num estilo de observação que se designa twitching (basicamente consiste em fazer deslocações específicas propositadamente para ver uma determinada espécie). Surgiu o desafio de encontrar pica-paus e aves noturnas nas florestas e heis que surge o registo de um mocho bastante raro. Para o procurar teríamos que atravessar uma floresta a pé, carregados com diversos equipamentos, por uns bons quilómetros. Até aqui tudo bem. O problema é que estávamos no inverno, praticamente de noite, não fazia propriamente calor, o chão estava repleto de neve e gelo e haviam imensas árvores, altas e todas iguais, precisamente da cor do bendito mocho. Andámos, andámos e heis que encontrámos um senhor sentado numa cadeira literalmente no meio do nada. Acontece que o senhor estava simplesmente ali, sentado ao frio e quase no anoitecer, à espera que as próximas pessoas interessadas em ver o animal chegassem.  Para enorme surpresa de todos os Portugueses no grupo, a ave estava pronta a ser vista no telescópio do senhor. Incrível! As horas que não teríamos andado para muito provavelmente não ver a ave. Fiquei pasmado com tal gesto, embora aparentemente algo comum por lá. Um a um vimos a ave através do telescópio do senhor sem sequer montarmos o nosso equipamento e, depois de alguma conversa com o senhor, regressámos ao carro. Já ele, decidiu ficar um pouco mais. 

  • Um objeto que trouxeste de viagem e que tem um grande valor sentimental?

Um sino portátil anti-urso (Bear Safety Ring) que me foi oferecido por uma grande amiga húngara aquando do início de uma nossa aventura numa prova de orientação na Transilvânia na Roménia. A prova seria de 30 horas o que implicava pernoitar em territórios de urso. Desde então, trago-o comigo na mochila em cada caminhada que faço para me recordar não só do gesto como da experiência e momentos intensos que vivemos naquela dura prova.

  • Numa frase: o que significa para ti ser líder de viagem?

Para mim ser líder de viagem é ter a oportunidade de proporcionar momentos únicos de felicidade dando a conhecer novos locais, culturas, pessoas ou áreas naturais e assim inspirar novos viajantes a conhecer novas realidades e a conectar-se com locais, pessoas e meio ambiente.

Se estas histórias te despertaram a curiosidade e a vontade de descobrir o mundo de forma autêntica, junta-te ao António Cotão nas suas próximas viagens com a Papa-Léguas.

Vem partilhar momentos únicos, paisagens inesquecíveis e experiências que só quem viaja com quem conhece o caminho de forma tão apaixonada consegue proporcionar!

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