A relação entre os japoneses e as tatuagens é cheia de história e ainda hoje envolta em tabus. Neste artigo explicamos tudo: da origem ao presente, e como viajar com respeito.
As tatuagens no Japão têm raízes milenares. Em épocas como o período Jomon e o período Yayoi, eram usadas com fins espirituais ou tribais — marcas no corpo com significados protetores ou de pertença. A partir do período Edo, o cenário mudou: o governo passou a usá-las como forma de punição criminal, marcando os infratores com símbolos visíveis. Esta prática lançou as bases do estigma que ainda hoje persiste.
Ao mesmo tempo, surgia a irezumi, a tatuagem artística japonesa, associada a coragem, força e identidade. Era popular entre bombeiros, artesãos e trabalhadores, com motivos como carpas, dragões e flores de cerejeira.
Com a abertura ao Ocidente, em 1872, as tatuagens foram proibidas e a arte passou para a clandestinidade e ganhou força entre os membros da Yakuza, a máfia japonesa, reforçando a ligação entre tatuagens e criminalidade. Essa associação histórica continua a influenciar a perceção social no Japão — especialmente entre gerações mais conservadoras — apesar da mudança gradual nas mentalidades.
Uma cultura em mudança
Mas, o Japão moderno está a mudar lentamente a forma como vê as tatuagens. Nas grandes cidades como Tóquio, Osaka ou Quioto, há cada vez mais jovens japoneses, artistas, atletas e profissionais criativos a adotar tatuagens como expressão pessoal. A influência da cultura global, das redes sociais e do turismo internacional também tem contribuído para desconstruir a imagem negativa associada à tatuagem.
Em 2020, uma decisão judicial estabeleceu que os tatuadores não precisam de licença médica para exercer, legitimando finalmente esta prática artística. Foi um passo importante para o reconhecimento da tatuagem como arte — e não como ameaça. Mesmo assim, o estigma ainda existe. A cultura japonesa valoriza a harmonia e o respeito pelo coletivo. Daí, ter tatuagens visíveis pode, em alguns contextos, ser visto como uma quebra dessa harmonia — não por preconceito, mas por tradição.
Posso viajar para o Japão com tatuagens?
Se tens tatuagens e estás a pensar visitar o Japão, podes respirar de alívio: não há nenhum impedimento legal. Ninguém te vai barrar à entrada, nem te impedir de explorar templos, apanhar o comboio-bala ou perderes-te nos mercados de Tóquio.
No entanto, as tatuagens ainda podem ser vistas com alguma reserva em certos contextos — especialmente em espaços dedicados ao bem-estar, à tranquilidade ou com uma forte ligação à tradição, como os famosos onsen, spas ou ginásios. Isso não significa que vais encontrar obstáculos por todo o lado, mas sim que vale a pena estares atento e adaptares-te ao ambiente. Compreender o peso cultural que as tatuagens ainda têm no Japão ajuda-nos a olhar para estas situações com empatia.
Locais onde deves ter cuidado com tatuagens
1. Onsen – As termas japonesas
Embora cada vez mais viajantes tatuados explorem o Japão, é importante saber que muitos onsen ainda mantêm regras tradicionais quanto à exposição de tatuagens. Felizmente, já existem vários onsen tattoo-friendly, sobretudo em áreas mais turísticas. Outra alternativa é optar por onsen privados, ideais para casais, famílias ou para quem prefere um ambiente mais reservado. Se necessário, também é possível usar pequenos adesivos de cobertura, vendidos em várias farmácias locais.
2. Piscinas, spas e ginásios
Estes locais costumam seguir as mesmas normas que os onsen. Muitas vezes exigem que a tatuagem seja coberta com roupa ou adesivo impermeável.
3. Ryokan
Podes ficar num ryokan com tatuagens, mas confirma se os banhos partilhados estão acessíveis. Alguns podem limitar o acesso a pessoas tatuadas. A solução? Reserva um quarto com casa de banho privada.
4. Locais de banho público e balneários
Alguns balneários e sento, banhos públicos, mantêm regras semelhantes às dos onsen. O ideal é verificar com antecedência ou perguntar educadamente à entrada.
Como ser respeitoso com a cultura local
Viajar com tatuagens no Japão exige apenas um pouco de sensibilidade cultural:
- Leva adesivos de cobertura: são baratos, discretos e aceites em vários espaços.
- Opta por um vestuário discreto e respeitador: em contextos mais formais ou tradicionais — peças como camisas leves ou t-shirts soltas de manga curta ou comprida são uma boa escolha.
- Faz pesquisa prévia: procura termos como tattoo friendly onsen ou tattoo friendly ryokan para garantir uma experiência tranquila.
- Evita mostrar tatuagens em locais religiosos: como templos e santuários. Não é obrigatório, mas é sinal de respeito.
- Sê cordial: se te pedirem para cobrir uma tatuagem, não leves a mal. Não é um ataque pessoal — é uma norma cultural que estás a visitar.
Viajar com tatuagens no Japão não só é possível, como pode ser uma experiência enriquecedora, desde que estejas atento ao contexto e demonstres abertura para compreender o outro.
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