Como diferentes culturas homenageiam os mortos?
O Dia dos Finados, celebrado a 2 de novembro em Portugal e em muitos outros países de tradição católica, é um momento de reflexão, memória e homenagem aos que já partiram. Para alguns, significa ir ao cemitério, acender uma vela e rezar em silêncio. Para outros, é ocasião de celebração, música ou até festas coloridas.
Mas afinal, como é que o mundo recorda os seus mortos? Vamos percorrer diferentes países e tradições para descobrir que, apesar das diferenças culturais, existe sempre um ponto em comum: manter viva a memória dos que já não estão connosco.
México: o Dia de los Muertos
Se pensarmos em celebrações dedicadas aos mortos, é impossível não lembrar o México. O Dia de los Muertos é uma das festividades mais icónicas e foi até reconhecida pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Ao contrário da visão mais sombria que associamos à morte, aqui celebra-se com música, flores de cempasúchil, caveiras coloridas de açúcar e altares decorados. As famílias acreditam que, nestes dias, os espíritos regressam ao mundo dos vivos para visitar os entes queridos. Por isso, montam altares, as ofrendas, com fotografias, velas e pratos favoritos dos falecidos.
Japão: o festival Obon
No Japão, a tradição é diferente mas igualmente simbólica. O Obon é um festival budista, celebrado em agosto ou julho, dependendo da região, que acredita que os espíritos dos antepassados regressam a casa durante alguns dias.
As famílias preparam altares com oferendas, limpam as casas e acendem lanternas para guiar os espíritos de volta. No final, muitas comunidades participam no Toro Nagashi, cerimónia em que lanternas de papel são lançadas ao rio ou ao mar, iluminando a noite com pequenas luzes flutuantes.
Filipinas: um dia de festa no cemitério
Nas Filipinas, o Dia de Todos os Santos e o Dia dos Finados são momentos de grande importância. Mas, ao contrário do silêncio que muitas vezes se associa a estas datas, aqui os cemitérios transformam-se em verdadeiras festas familiares.
As famílias passam o dia e muitas vezes a noite junto aos túmulos, levando comida, música, velas e histórias. É comum ver grupos a partilhar refeições, crianças a brincar e até jogos de cartas. A ideia é manter a ligação com os antepassados num ambiente de comunidade e celebração.
China: Festival Qingming
Na China, o Festival Qingming, também chamado Dia da Limpeza dos Túmulos, é celebrado no início de abril. Como o nome indica, é o momento em que as famílias visitam os túmulos dos antepassados para os limpar e renovar.
Durante este ritual, são feitas oferendas de comida, chá, vinho e flores. Uma das tradições mais marcantes é a de queimar papel-joss, que simboliza dinheiro ou bens materiais, para que os falecidos os recebam no além. O Qingming é também uma oportunidade para passeios familiares, já que coincide com a chegada da primavera.
Itália: Tutti i Santi e Giorno dei Morti
Em Itália, a tradição também tem raízes profundas. O Dia de Todos os Santos é feriado nacional e, logo a seguir, a 2 de novembro, celebra-se o Giorno dei Morti. As famílias visitam os cemitérios, deixam flores frescas e velas acesas. Em algumas regiões, existem tradições gastronómicas ligadas à data: no sul de Itália, por exemplo, é comum preparar doces em forma de ossos, conhecidos como ossa dei morti.
Portugal: Dia de Finados
Em Portugal, o Dia de Finados a 2 de novembro é ainda assinalado em muitas localidades, sobretudo fora dos grandes centros urbanos. A tradição passa por visitar os cemitérios, levar flores e rezar pelos familiares falecidos.
Em alguns locais, ainda é comum fazer-se o pão-por-Deus, onde as crianças vão de porta em porta a pedir ofertas em honra das almas. Esta tradição, que ainda sobrevive em alguns pontos do país, é vista como uma antecessora do Halloween.
