Quando pensamos na Tailândia, talvez venha à cabeça o cheiro doce do leite de coco, o sorriso largo das pessoas ou a profusão de cores a cada esquina. Mas há um lugar onde tudo isso se encontra – literalmente – à flor da água: os mercados flutuantes da Tailândia. Mais do que uma imagem de postal ou um cenário para redes sociais, estes mercados são, desde há séculos, o coração palpitante da vida ribeirinha tailandesa.
Durante grande parte da sua história, o centro da vida urbana e rural tailandesa não foram as estradas, mas os rios e canais, conhecidos localmente como klongs. Nos arredores de Banguecoque, por exemplo, existia uma verdadeira rede hidrográfica onde se navegava para ir à escola, ao médico ou ao mercado. Era no barco que se carregavam os legumes, os peixes, os tachos e até as flores para vender. O rio era estrada, mas também mesa, sala de estar e mercado ao mesmo tempo.
Os mercados flutuantes nasceram desse quotidiano aquático, e alguns ainda hoje preservam a autenticidade dos tempos antigos, ainda que muitos tenham cedido ao apelo do turismo de massas. O truque está em saber onde ir, a que horas chegar… e com que olhos ver.
Damnoen Saduak: entre o folclore e a realidade
É impossível falar de mercados flutuantes sem mencionar Damnoen Saduak, provavelmente o mais famoso (e fotografado) do país. A cerca de 100 km de Banguecoque, este mercado é um labirinto de canais onde os vendedores, de chapéu de palha e sorriso pronto, cozinham e vendem de tudo, desde noodles a frutas tropicais, passando por lembranças e chapéus de palha.
Sim, Damnoen Saduak é turístico. Sim, há barcos a motor com turistas a tirar selfies. Mas, se lá chegares cedo, antes das excursões organizadas, ainda podes ver os gestos antigos: a mulher que arranja os ramos de manjericão no barco, o senhor que prepara o café tailandês numa panela de metal a fumegar, ou a troca de gargalhadas entre duas vendedoras a remar lado a lado. É aí que o mercado deixa de ser espetáculo e volta a ser vida.
Amphawa: quando o sol se põe, a luz é outra
Menos conhecido e mais frequentado por tailandeses, o mercado flutuante de Amphawa, a cerca de 90 km de Banguecoque, ganha vida ao final da tarde, quando o calor abranda e as luzes se acendem. Aqui, os barcos alinham-se ao longo das margens e servem grelhados de peixe, camarão, lula — tudo acabado de sair da grelha, com um molho picante a acompanhar.
O ambiente é diferente: há música ao vivo, famílias que passeiam, miúdos que correm de um lado para o outro, vendedores que conhecem os clientes pelo nome. E depois, quando a noite cai, alguns barcos saem para o rio escuro, levando viajantes a ver pirilampos nas árvores. Uma espécie de encantamento inesperado, como se o mercado respirasse também poesia.
Taling Chan: mercado de domingo e de bairro
A apenas meia hora do centro de Banguecoque, Taling Chan é um mercado pequeno, acolhedor e local. Ali, a experiência é mais tranquila, e os visitantes estrangeiros ainda são poucos. Vêem-se famílias tailandesas a almoçar peixe grelhado sentadas no chão de madeira, com os pés pendurados sobre a água. A comida é o destaque — fresca, variada e preparada na hora.
Num dos barcos, uma mulher serve sopa de peixe com ervas, enquanto ao lado se prepara som tam, a salada picante de papaia verde. É o lugar ideal para quem quer provar sabores autênticos sem multidões e sentir que está, de facto, num mercado e não num cenário de filme.





Importa lembrar que os mercados flutuantes da Tailândia não são apenas belos ou pitorescos, são também frágeis. A urbanização descontrolada, a poluição dos rios, o turismo massificado e as alterações climáticas têm posto em risco o equilíbrio destas comunidades ribeirinhas. Alguns mercados tornaram-se apenas decorativos; outros lutam para manter a tradição viva, reinventando-se aos poucos.
Assim, visitar estes mercados com respeito é essencial. Evitar o desperdício, recusar sacos plásticos, interagir com os vendedores com curiosidade e gentileza — são pequenas ações que fazem diferença. Porque não se trata apenas de ver; trata-se de compreender.
O que deves saber?
Nos mercados flutuantes, não há pressa. Os barcos deslizam devagar, os gestos são pausados, os encontros acontecem ao ritmo da água. E talvez seja isso que mais nos marca: a sensação de que o tempo pode ser outra coisa. Uma travessia, uma pausa, uma conversa entre estranhos que partilham comida num barco que balança.
Viajar pela Tailândia não é apenas correr entre templos e praias. É também sentar-se num banco de madeira a olhar a vida que passa em cima da água, comer algo que não se sabe bem o que é, sorrir a alguém que não fala a nossa língua mas entende o gesto. Porque o coração da Tailândia bate devagar, e muitas vezes, bate nos mercados flutuantes.
Vem conhecer a Tailândia com a Papa-Léguas e a Carla Marques! E tu, vens?