Tenho ao longo deste último ano desenvolvido e aplicado as minhas aprendizagens sobre pensamento regenerativo. Mais do que uma solução, é uma forma de pensar e de viver. A regeneração é um passo mais neste caminho que pretende estar ao serviço da vida.
Ao longo da minha vida tenho viajado e vivido um pouco pelo mundo. Sediado aqui em Portugal, desde sempre parti pelos trilhos do planeta para o conhecer, para o sentir, para o viver. A verdade é que descobri que só em presença posso realizar o que me propus. A presença que apenas o tempo permite. Quando damos tempo, quando a pressa não mora onde estamos.
Só assim conseguimos dar o tempo para essa qualidade de presença sobressair e a conexão existir. Conexão com o que está vivo em nós, com o local que nos rodeia e as possibilidades de ligação a ele, através das pessoas, da natureza, dos objectos, de tudo.
Cada vez sinto mais desconforto em apanhar um avião para cruzar meio mundo e aterrar com um grupo de pessoas lá na outra realidade distante e diferente. A verdade é que não é assim tão diferente, na medida em que quem está lá, são pessoas também. Temos essa ligação humana como algo comum. Choramos, rimos, ficamos doentes, recuperamos, da mesma maneira por exemplo. É certo que com diferentes “mães culturas” (Ismael, Daniel Quinn) a sussurrar diferentes soluções para a vida, mas com este potencial humano em comum. Mudam, talvez, as roupas, as cores, alguns hábitos, e mais umas tantas coisas, mas existe uma procura pela sobrevivência e pela vida que é universal.
Portanto, quando me penso como um ser ao serviço da vida, não posso deixar de olhar para mim, para a relação comigo. Para as decisões que tomo no que me afeta em relação ao que como, à forma como me desloco, aos serviços, actividades, coisas que adquiro ou proporciono, tanto em casa como em viagem.
Somos o que comemos, somos o que fazemos, e somos o que pensamos. Por isso, na regeneração, há que olhar para nós como uma parte que pertence a um todo. Todo este que é maior que nós e que engloba a natureza, os outros, o nosso contexto, a vida no geral. Não podemos olhar para o mundo de forma isolada, nem de forma partida, quebrada, pois é uma malha onde todos somos importantes para o resultado final. Podem haver buracos, podem haver pessoas a pensar de forma diferente e podem haver muitas coisas fora do nosso controlo, mas a questão que paira no ar é: o que estás disponível para fazer?
É que só avançando podemos mudar este mindset mais generalizado de que este modelo extrativista e consumista é a solução para os problemas do mundo. Este modelo que apregoa mais aeroportos, mais complexos turísticos e resorts, mais campos de golfe, etc e mantém a precariedade salarial, social; mantém as desigualdades e a injustiça social; explora o trabalho imigrante; os recursos do país ao serviço de uma filosofia e forma de agir gasta e repetitiva.
Focando no que é importante, a regeneração de cada um, a mudança de mindset rumo a um mundo mais ao serviço da vida e do que ela representa: possibilidades. Possibilidades de transformação, de crescimento, de comunidade e de aprendizagens. Muitas mais possibilidades que só podemos descobrir e viver se nos colocarmos como participantes neste mundo em constante revolução e regeneração. O turismo, ao viver-se com pensamento regenerativo, adquire esta possibilidade de ser uma ferramenta ao serviço da vida.
De empoderar as comunidades e, por arrasto, os indivíduos que as compõem. De dar novo alento e significado ao pacto entre nós e a natureza, não como exploradores, mas sim como parte integrante dela. De alimentar o ser que habita em cada um, como um ser que se questiona, que se vive e prospera na sua relação consigo, com o outro, com o mundo, com a vida.
É que, o mundo não vai a lado nenhum, mas nós vamos, vamos rumo a uma extinção em massa se continuarmos neste rumo.
Portanto vamos trabalhar para mais regeneração?